O trecho de um documento inédito dos órgãos de espionagem da ditadura civil-militar (1964-1985) revela que o padre italiano Aldo Lucchetta, que integrou à época a paróquia de Riacho de Santana, se opôs ao regime no sudoeste baiano. As informações são do Bahia Notícias, parceiro do Achei Sudoeste. No documento está escrito: “O padre Aldo é o terror da região. Nada se faz no município sem que ele seja consultado. O padre ofende no púlpito o prefeito, a juíza de direito, o delegado de polícia e outras autoridades que se opõem ao seu trabalho”. Lucchetta era destemido e não titubeava em enfrentar o poder no interior do estado. Natural da província de Treviso, no Norte da Itália, Lucchetta, com então 26 anos, desembarcou no Brasil pela cidade de São Matheus (ES). No intervalo das missas, o pároco fazia o trabalho de base como os trabalhadores rurais. Não demorou e ele passou a incomodar autoridades, que pediram a sua saída do país, em 1972. Um ano depois, porém, o religioso voltava para o Brasil, onde passou por Caetité e Licínio de Almeida até chegar em Riacho de Santana. Na cidade, atuou em várias frentes, seja na educação, no esporte, na saúde e até na comunicação. Em janeiro de 1981, o então prefeito, Alcides Cardoso Coutinho, publicou uma “carta-denúncia” no jornal A Tarde. No relato, o gestor afirmava que o religioso assumia “posições antissociais”, que não só perturbavam a administração da cidade, como tumultuavam “a vida religiosa dos paroquianos”. Apelidado de “Herói do Sertão”, Aldo Lucchetta atuou na criação de mais de 60 escolas na região, muitas delas para preparação de técnicos rurais. Passou pela ditadura, que completa 60 anos no próximo dia 31 de março, e entrou na nova República. Seguia na lida diária quando um acidente de carro interrompeu a vida de Lucchetta em 1998, aos 56 anos.