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'Governador da Bahia, Jerônimo recebe em seu gabinete quem ele quiser', diz petista em artigo
Foto: Joá Souza/GOVBA

Sem disfarçar os ciúmes da bancada de oposição que foi recebida em audiência pelo Governador Jerônimo Rodrigues na última sexta-feira, o vereador Renato Santos Teixeira, em seu primeiro pronunciamento após eleito, preferiu, ao invés de chamar seus pares à unidade em prol da população brumadense, fazer provocações aos seus adversários políticos, tripudiando do vereador Rey de Domingão e desdenhando da vereadora Verimar do Sindicato. O novo presidente do legislativo brumadense ainda acusou o governo estadual de utilizar de uma “mão invisível”, e em tom de censura mandou um recado para o governador Jerônimo que estava “pronto para o diálogo” e que não é de fazer “politicagem”, se colocando à disposição do chefe do Executivo estadual, caso o governador tenha “verdadeiramente tanto interesse em Brumado e no crescimento de Brumado”. Ao tomar conhecimento de tais declarações, de imediato pensei: “Quem o vereador Renato pensa que é para dizer ao governador Jerônimo quem ele deve ou não deve receber em seu gabinete?”. Houve um tempo na Bahia em que vereadores e prefeitos só eram recebidos no Palácio do Governo em Salvador se fossem da mesma corrente política do governador. Era a regra nos tempos de ACM e, mesmo nos interregnos das gestões carlistas, este costume era adotado como uma cultura política. Isso só veio a mudar quando Jaques Wagner assumiu em 2007, inaugurando um período de relação democrática e republicana com os prefeitos e vereadores dos 417 municípios baianos, independente da filiação partidária de cada agente político. Esse modo de governar e fazer política é uma marca das gestões petistas no Estado.

Wagner e Rui Costa fizeram bem em adotar o republicanismo como prática, que é o caminho por onde Jerônimo também vai trilhar. Mas passados 16 anos, fica o aprendizado – sobretudo diante dos novos tempos, com o enfrentamento ao golpismo e ao extremismo na ordem do dia da politica – de que até mesmo o republicanismo encontra seus limites, de ética e de coerência, sobretudo. Um dos efeitos colaterais deste republicanismo é visível, no caso concreto, na relação do atual prefeito de Brumado com as gestões petistas no Estado. Wagner assumiu quando Eduardo Vasconcelos iniciava seu terceiro ano de mandato. No segundo ano do governo petista na Bahia, o prefeito de Brumado disputou a reeleição contra uma deputada estadual (Marizete Pereira) que não só era da base do governador, como também era a esposa do então vice-governador da Bahia, Edmundo Pereira. Se a prática no governo Wagner fosse a mesma dos tempos do carlismo, segmento onde Eduardo Vasconcelos iniciou sua trajetória política, o prefeito sequer seria recebido pelo governador, mas conseguiu isso durante a campanha eleitoral de 2008 e divulgou foto do encontro par confundir o eleitorado. É verdade que em 2010, quando Wagner foi candidato à reeleição, teve o apoio do atual prefeito de Brumado, e seu companheiro de chapa em 2006 estava no campo oposto. A relação do gestor local com os governos petistas na Bahia teve altos e baixos, idas e vindas, mas em diversas oportunidades o prefeito Eduardo demonstrou uma animosidade exacerbada em relação ao PT e seus líderes políticos de expressão, inclusive com quem lhe estendeu a mão. Do Partido dos Trabalhadores, o prefeito de Brumado disse que “há três coisas que só faz um vez: nascer, morrer, e votar no PT”. De Lula, comemorou quando ocorreu a prisão ilegal e durante todo o período eleitoral de 2022 espalhou fake news, tendo até publicações no Instagram suspensas. De Dilma Roussef, foi em praça pública com meia dúzia de gatos pingados em favor do impeachment de 2016. De Jaques Wagner disse que o havia escolhido em 2010 por ser “o menos pior”, mas de Rui Costa o prefeito não teve nenhuma suavidade: atribuiu ao governador da Bahia apologia ao narcotráfico, uma acusação absurda que está em análise na Justiça, onde foi acionado pelo ex-governador e atual ministro chefe da Casa Civil. Para além das declarações que são conhecidas, as práticas de Eduardo nada tem de afinidade com o PT. Desde muito antes de abraçar de forma apaixonada o bolsonarismo, o prefeito de Brumado demonstra comportamento autoritário, um viés político desagregador, saudosismo da Ditadura de 1964 e é crítico dos programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família. Durante muito tempo, a malcriadez do gestor brumadense teve a tolerância dos governadores petistas – o que causou estranheza na militância de esquerda em Brumado, inclusive as declarações de apoio que recebeu na antevéspera do último pleito municipal – mas agora, com Jerônimo, há um ajuste de rotas que coloca esta tolerância no passado. “Crie corvos e eles te arrancarão os olhos”, diz a lenda espanhola. As lições desta relação do PT estadual e de governadores petistas com políticos da estirpe de Eduardo, aliadas às lições do recente 8 de janeiro golpista, apontam que devemos tirar aprendizado para que equívocos não se repitam. E voltando ao início do texto, é bom salientar que o comportamento que o vereador Renato Santos Teixeira critica no governador do Estado – de receber vereadores com mesmo alinhamento político – é o mesmo que o prefeito de Brumado pratica desde sempre. Não me consta que vereadores de oposição sejam recebidos em audiência pelo prefeito de Brumado, a menos, é claro, que o prefeito coloque como condição para isso a adesão de vereadores à sua base. Nas lives que realiza regularmente, e nas transmissões em rádio de seu programa, o prefeito cita nominalmente apenas os vereadores que fazem parte de seu grupo, como se os outros vereadores não existissem em Brumado. Que moral tem o vereador Renato Santos Teixeira para exigir do governador Jerônimo um tratamento que seu chefe, Eduardo Vasconcelos, não dispensa a seus opositores? Por último, ainda que os 8 vereadores da “Bancada do Ciúme” se achem dignos de serem recebidos pelo governador da Bahia, alegando isonomia de tratamento – independente de serem oposição ou situação, os vereadores tem as mesmas atribuições enquanto agentes políticos, enfim, todos os membros da Câmara de Brumado são representantes do povo, por simetria ao art. 45 da Constituição Federal – não há nada que obrigue o governador Jerônimo a recebê-los, a não ser a sua boa vontade. Não há dispositivo legal que determine que tenham eles a mesma deferência dada na semana passada aos outros 7 vereadores. E, no meu modesto ponto de vista, não fazem por merecer, pois nesta bancada há quem tenha votado na chapa vencedora da sessão da última segunda-feira após confirmação de nomeação de cargo para diretoria no município, há a situação dos vereadores do PCdoB que não atenderam as orientações do deputado federal Daniel Almeida e do vice-prefeito e presidente do PCdoB local, Édio Continha, e há sobretudo um Presidente de Legislativo recém-eleito que se achou no direito de dar uma bronca no governador. Todos eles comandados politicamente por um prefeito que não é digno de confiança. E Jerônimo Rodrigues, Governador da Bahia, continuará a receber quem quiser, doa a quem doer os cotovelos. (Artigo escrito por Luiz Frederico Rêgo, o Fredinho. Ex-presidente do PT de Brumado).

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