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19/Set/2017 - 09h00

Obras do Parque Eólico de Cristalândia preservam cerca de pedras da época da ocupação de Brumado

Obras do Parque Eólico de Cristalândia preservam cerca de pedras da época da ocupação de Brumado Foto: Lay Amorim/Achei Sudoeste

As obras dos Parques Eólicos Cristalândia I,II e III, além de ofertar energia limpa, também se preocupa com a preservação da fauna, flora e arqueologia na Serra das Araras, nos 21 km de extensão do empreendimento, que liga os municípios de Brumado, Dom Basílio e Rio de Contas. O site Achei Sudoeste obteve acesso à cartilha elaborada pelo empreendimento, que relata que, dentre as preservações e até remontagem, está os 6 km de uma cerca de pedras localizada no Sítio São José. A cerca é datada da época da ocupação da região, no século XVIII, quando uma expedição bandeirante comandada pelo Capitão Francisco de Souza Meira chegou à região. Com o passar dos anos, a região começou a ser ocupada por fazendas, que com suas atividades agropecuárias deram origem ao povoado de Bom Jesus dos Meiras, que foi emancipado em 1869. O local mudou de nome para Brumado, por decreto, em 1931. As entrevistas com descentes dos antigos proprietários das terras foram preponderantes para o trabalho de preservação e reconstituição das cercas, apontadas como grande descoberta arqueológica no trecho da obra. 

Obras do Parque Eólico de Cristalândia preservam cerca de pedras da época da ocupação de Brumado Foto: Lay Amorim/Achei Sudoeste

A cartilha relata ainda que, ao contrário do que se dizia, as cercas de pedras não eram utilizadas para separar as propriedades, o que era feito por mourões de madeiras fincadas ao chão. Elas serviam para separar os gados das áreas de lavoura, bem como para proteção de cabras e ovelhas contra os bandos de porcos bravos, os caititus. Documentos dos antigos proprietários comprovam que as cercas não foram construídas por mãos escravas, mas por trabalhadores livres. As construções perduraram até meados do século XX, pois, com as mudanças no modo da produção agrícola, a técnica caiu em desuso a partir da década de 1950, fazendo com que as cercas de pedras perdessem suas funções e passaram a servir apenas como esconderijos para os mocós, pequenos roedores do serrado e da caatinga. A técnica utilizada para construção das cercas é a mesma usada atualmente por pedreiros na construção de alicerces de casa de blocos de barro e de alvenaria no sertão. Os fazendeiros optaram pela construção das cercas de pedras por causa das características geológicas da serra na região de Cristalândia, onde era obtida a matéria prima sem precisar percorrer longas distâncias. Nos locais mais distantes, os trabalhadores transportavam as pedras em sacos nos ombros, ou nos banguês, uma espécie de maca. 

Obras do Parque Eólico de Cristalândia preservam cerca de pedras da época da ocupação de Brumado Foto: Lay Amorim/Achei Sudoeste

As pedras eram retiradas com picaretas e madeiras e depois eram recortadas para atingir o tamanho ideal para a montagem, um trabalho artesanal que pode ser classificado como um intrigante quebra-cabeça de pedras. Os trabalhadores cavavam um sulco no solo e assentavam as pedras uma sobre as outras sem o uso de cimento ou argamassa. As cercas tinham, em média 1,20 m de altura, para evitar os ataque dos caititus. Ao longo do trecho de construção do parque houve um acompanhamento arqueológico, a fim de preservar as cercas e a vegetação nativa. Em alguns pontos, por se tratar de área estreita, as cercas foram removidas e reconstruídas meticulosamente após a instalação das torres aerogeradoras. Foram, no total, 333 metros de cerca desmontadas e remontadas. Parte da cerca, 21 metros, foi reconstruída na entrada da estrada de acesso ao Parque Eólico, tendo a aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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